AMOR DE CONTO DE FADAS
Há mil anos escrevi um livro:
_contava que em uma linda noite de outono, esquecida,
apareceria uma fadinha,
feito bela adormecida,
e,
por entre aquelas folhas amareladas daquele livro
- todas minhas...
ela contaria "uma linda história de amor".
A história seria breve , vulgar e simples,
suspeita.
O amor estaria escondido numa fria taverna, subterrânea,
estreita.
Do fundo do coração ouviriam-se murmúrios... pulsares, ruídos e vozes!
O amor brotaria feito flores do campo,
resvalando uivos de animais ferozes,
e seus lábios seriam beijados
loucamente
em sua mais cordial sensualidade,
enaltecendo sua sensatez
sua alma desnuda
sua rosalidade e ebriez.
Seus lábios,
quase que sexualizados em tão belas e rosadas cores,
segredariam-me o poder dos sábios
e ainda hoje,
a escrever a meus letrados amores,
depois de tantos anos ... mil,
neles,
eu me embriagaria de prazer,
e caminharia cavaleiro à sorte
acompanhando o cavalgar do deuses
pelo estranho caminho de Santiago
até alcançar o lado de lá do alto mar,
onde meus olhos só teriam os teus pra admirar...
Você seria então
a bebida que alimentaria minh'alma,
sim,
seria a alegria que me faria viver
seria a beleza resplandescente
factual, embrionária e existente.
Seria a natureza...
divina, intocável, indecifrável.
Sua alma enigmática e meiga
seria a mais amada de todos os entes.
Você sorriria perfeita
mágica, linda e surpreendente.
Fada mensageira das belas noites floridas
longínqua, oblíqua, incontrolável,
semeando irreverências aos canteiros da vida,
desvirginando suavemente
todo o nosso profundo amor.
As flores do seu jardim
seriam tão lindas que floresceriam
exaustivamente
como se sorrissem
um sorriso de mil anos,
complascentemente, telepaticamente, transoceanicamente.
O tempo
e a história,
fragmentada em nossos corações,
tornariam-nos cúmplices
do nosso grandioso olhar latente
e feito meninos,
acenando mágicas pros navios que partem,
escreveriam versos
nas páginas daquele maravilhoso livro...
e nos tocariam a alma, profundamente.
Astros brilhantes de luz
vertentes
palavras marcantes,
silenciosas e nuas
que falariam do amor da gente
às estrelas embriagadas e cadentes.
Sonhos e ventanias
desejos naturais e sublimes
gritos tresloucados
paixões arremessadas aos ventos
orquestrariam os relâmpagos das noites
e alcançariam a distância entre a terra e o céu.
Espectros de luz
deixariam enclausurados todos os meus pensamentos
irregulares,
inexistentes,
irrequietos,
mostrando-me a bela fada
acariciando-me
serenamente.
Eu,
o mais solitário dos poetas,
estaria acordado entre o crepúsculo
e o medo.
As paixões circunscritas
escritas em castiçais
insanos,
profanos.
Inconfessáveis frases místicas
lendárias,
aquelas palavras das flores do livro
que percorreriam mais de mil anos
a navegar pelos rios e oceanos
e hoje
percorreriam estradas e pântanos
definiriam a minha alma e a sua,
e permaneceriam místicas, secretas,
telegrafadas do fundo do nada,
do precipício das minha entranhas,
e cantariam efêmeras
pra lua
sózinha e pura,
sem linguagem nenhuma,
exatamente
transparente
sutil e infinita,
como há mil anos atrás!
Soltariam-se
e subiriam aos céus
bolhinhas de sabão,
perene ilusão
alegre, reluzente, próspera,
atravessando o condão
da deusa e translúcida fadinha...
bolhas que brincariam
pelos ares
feito enamorados tresloucados,
filosofando porções-poemas
pela noite adentro.
Todas as canções do mundo,
tocariam-nos agora.
Todas os desígnios do mundo
recriariam-se nesta hora.
O nosso amor seria inesperado e azul para todo o sempre:
eterno, revelado
espontâneo
presente, futuro e mais que pretérito.
O nosso amor seria uma viagem
Interminável
rumo ao mais distante pedaço de nós mesmos...
porque é assim que eu me sentiria:
Cantando cantigas mágicas pra lua
leve como nuvens
esvoaçantes
gameta, essência
anjo,
arcanjo, consciência e dor,
incendiando o fogo eqüino dos amantes,
reinventando as nossas mais íntimas histórias de amor!
AVIENLYW - (22/9/2001 )
WILDON LOPES
Enviado por WILDON LOPES em 06/06/2006
Alterado em 07/06/2006